O circo do medo. Fogo, facas, palhaços e o amor.
"Não pode haver vida sem ordem, o bem, o mau... Escuridão e luz devem
estar em perfeito equilíbrio... mas o equilíbrio foi quebrado. Alguns
dizem que a guerra driblou o apocalipse, então a verdade foi forjada:
Ambos lados deveriam servir à balança, em troca de inimaginável poder.
Agora, um a parte deveria lutar para reconquistar a vida da humanidade.
Ele possui muitos nomes - carrasco, o destruidor... Morte "
(Darksiders II - Abertura editada)
Em frente ao espelho, refletiam-se os olhos castanhos-escuros de Ali,
que prendia seus cabelos cor-de-rosa em um coque puxado de mais para que
não doesse ao menos um pouco. O público aplaudia satíricamente a
derrota inesperada do palhaço maldito que fizera malabarismo com lâminas
em chamas, quase sendo levado ao óbito. Enquanto chorava, se dirigia ao
camarim a criatura de rosto branco manchado pelas lágrimas que
escorriam pela imunda face estampada pela humilhação. Alice olhava-o
enquanto dava os toques finais aos cabelos. "Talvez um sinal..." -
pensava - "...não." afagava a própria mente.Quando voltava o
público impaciente a aplaudir, a típica "gothic-lolita-girl" sentia-se
cada vez mais instigada ao palco. Olhou ao redor; Sentados com
semblantes tristes, as outras aberrações humanas: A mulher barbada, o
palhaço que quase estivera em chamas há minutos atrás, o homem que
pilotava uma motocicleta em alta velocidade dentro de uma esfera de
vidro, o leão magricela á beira da morte e seu domador e agora era sua
vez: A sombra lolita sentia-se a cada dia mais obrigada a mostrar-se,
exibir-se ao público com um sorriso estampado abaixo de suas
expectativas da vida que, desde criança, sonhara para si mesma.Saiu
pulando felizmente - ou assim esperava se mostrar - no chão coberto de
areia, levando a assistência ao delírio. Il gran finale chegara: sua
pessoa se mostraria futilmente à todas as outras em troca de alguns
trocados pagos diáriamente pelo infeliz patrão. Subiu radiante pelas
escadas, e abriu-se em uma extraordinária pose quando chegou ao topo, e
via-se em frente à corda bamba que a agurdava.Sem mais delongas,
colocou o pé esquerdo horizontalmente em relação á aparentemente frágil
corda, o direito, e assim, mostrou-se novamente ao público em outra
extraordinária e magnífica pose. Andava pelo resto da corda com tal
naturalidade que a fez sentir-se cada vez mais confiante, risonha -
infeliz.Meio caminho andado - literalmente - sentia a corda descer
graças à seu peso, e sentiu uma leve tontura. Os braços esticados
fizeram uma leve torção para a esqueda, depois para a direita, até que a
terçeira fora grande de mais para seu suporte; tal breve desequilíbrio
foi o bastante para que, sem demora, arrancasse suspiros assustados de
todos presentes, e fizesse Alice cair de mais de dez metros de altura...Sem conseguir se mexer, todos ali não fizeram nada mais do que deixar
que suas lágrimas falassem por si mesmos. Ninguém falava nada, porém,
todos estavam inquietos entre si.A garota morta criava uma poça de
sangue no chão que fazia-se aumentar de diâmetro conforme o tempo se
passava. As criaturas humanas saiam chorando aos prantos - porém,
vagarosamente - do circo, com o coração apertado, fazendo o máximo de
silêncio possível em sinal de respeito à Alice.Alice não era rica,
não era muito famosa, quanto menos muito bonita, mas uma coisa importava
mais do que tudo que se pode escrever: Alice era amada, e é isso que
importa. Ou melhor, era isso que importava.
Vinícius Ramos
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