Sempre foi comum ter pesadelos. Desde criança convivi com isso. Minha mãe dizia
que eu tinha um tipo de "chamado”, por que tudo aquilo que eu sonhava
acontecia. Mas eram coisas banais e nada preocupantes. Mas aquele pesadelo
estava tirando o meu sono. Literalmente. Todas as noites , quando começava a
pegar no sono, vinha o medo de ver aquela cena. O corpo esquartejado. Enfrentar
as aranhas-homens-jacarés e suas presas afiadas cravadas em meus braços. Tudo
aquilo era horrível.
Depois de uma noite sem dormir direito, levantei-me para ir a
escola. Por incrível que pareça, eu gostava. Era o único lugar onde eu podia
ter paz. O único lugar onde eu poderia ser um "pouco normal". Além de
tentar, mais uma vez, conversar com Helena. Helena era uma garota inteligente,
bonita e reservada da minha classe. Nunca falava sobre sua vida pessoal com
ninguém e sentava-se na ultima cadeira da última fileira do lado direito da
sala. Uma vez me perguntara por que eu a olhava tanto. Fiquei espantado, pois
ela não conversava ninguém e, nervoso, respondi que não era nada. Falar com ela
era constrangedor. Mas, durante a semana, Helena puxara assunto comigo
frequentemente. Gostava de conversar com ela. Era madura, culta e falava sobre
assuntos muito interessantes e construtivos. Ela se interessava muito em saber
sobre minha família e o que eu gostava. Cheguei até a pensar se, por uma obra
do destino, poderíamos ter algo além da amizade. Mas não. Helena era demais pra
mim e não demonstrava nenhum sinal de interesse. Além de ser muito bonita pra
um cara feio como eu. Ela tinha cabelos castanhos-acizentados que desciam ate o
meio de suas costas. Seus olhos eram cor de mel que faziam que, quem os
escarasse, ficasse aprisionado em sua magia. Era linda. Naquele dia, enquanto
conversávamos durante a aula, Sr. Katy, coordenadora do meu colégio, chegou a
minha sala bufando:
- Matt, preciso falar com você urgentemente!
Estranhei o pedido da coordenadora. Imaginei o que
queria falar comigo. Nunca compareci a sua sala a não ser para receber convites
para ser representante de turma da minha sala. Corri. Chegando lá recebi a
notícia:
- Matt, vá a sua sala, busque seu material e corra para
sua casa.
- Mas, por que Sr. Katy?
- Sua irmã foi sequestrada.
A notícia veio como um tiro. Como isso pudera acontecer?
Minha irmã ficaria o dia inteiro em casa ajudando minha mãe nas tarefas
domésticas. Como conseguiram sequestrá-la? Onde estaria agora? Logo me veio a
cabeça os pesadelos. "Não. É tudo uma mera coincidência" disse a mim
mesmo. Voei direto para minha casa. Chegando lá, minha mãe estava desesperada
afogada em lágrimas.
- O que aconteceu mãe? Como ela foi sequestrada?
- Não sei. - Disse com dificuldades para falar- Antes de
acontecer, eu a pedi para que fosse ao mercado comprar uma coisa que faltava
para que acabássemos as tarefas de casa, mas ela não voltou. Ligaram para mim e
o homem que estava na linha pediu desculpa pelo constrangimento e disse que
minha filha era muito especial para "eles".
Fiquei chocado. Meus olhos cheios de lágrimas expressavam
a frustração de não entender o que estava acontecia. Quem eram esses caras? O
que seriam “eles”? Derrepente, a campainha tocou.
- Posso falar com vocês um minuto?
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