terça-feira, 23 de outubro de 2012

# 04 Fin


Minhas pernas começaram a tremer. Começara a pensar como enfrentaria o que vinha depois que entrássemos no corredor. As aranhas enormes, os gritos, a cena da minha irmã, ali, despedaçada como se fosse um objeto inútil qualquer. Buig me dava orientações de como entraríamos, mas não consegui prestar atenção. Por que a minha irmã? Seria aceitável que eles acreditassem que ela fosse a "mulher do Tigre", mas nada justificava o ritual. Por isso tenho - e sempre tive - nojo de pessoas religiosas que ofendem, matam  e manipulam pessoas que são inocentes. Algo interrompera meus pensamentos. Os gritos. Os gritos de Mary. 
- Anda Matt! Não temos tempo a perder! Já está começando e se demorarmos muito... Você já sabe o que vai acontecer. Tome isto - Buig abriu seu pingente Taigã ao meio e me deu uma parte - vai te proteger contra as Kumos. Segure o amuleto em sua mão e não abra os olhos. Passe rápido ok?
- Tudo bem.
Os que seriam as Kumos? Segundo meu pesadelo seria o meu grande desafio. As aranhas gigantes. 
- Ande Matt! - Disse Buig.
Os gritos ficavam mais sombrios. Precisava atravessar. Fechei meus olhos, segurei o pingente e dei meu primeiro passo. O que eu esperava acontecera. Aranhas pretas peludas com faces humanas e bocas de jacaré começaram a sair da janela. Pessoalmente eram ainda mais assustadoras. Soltavam ruídos agudos de dor e ódio. Porém, o amuleto fez uma espécie de parede protetora que quando elas encostavam eram eletrocutadas. Um líquido preto saia de seus corpos fazendo com que a proteção ficasse totalmente suja. Por um momento, não consegui controlar minhas pálpebras e abri os olhos. A parede de proteção se desfez e uma Kumo me atacou. Cravou suas presas em meus braços me fazendo gritar. Chorava como uma criança. Fechei meus olhos para que a parede se reconstituísse. Com muita dor, cheguei ao final do corredor e esperei que Buig o atravessasse. Ele atravessou com muita facilidade. Nenhum bicho chegava perto dele e nem emitiam som algum. Em dez segundo Buig já estava ao meu lado. 
- Então Matt, eles já começaram a cerimônia de consagramento. Sua irmã vai estar num altar de mármore no centro da sala. Os taigãs são os que estão em volta dela. Cada um está com um instrumento nas mãos, podem ser facas, armas, entre outros. Eu vou entrar como se estivesse chegando para reunião e você vai esperar meu sinal para que entre. Não comece a chorar novamente por que se não, eles vão confirmar a sua presença aqui e estará tudo acabado. Eu ficarei perto desta porta. Quando eu der três batidas nela, você entra e começa a gritar. Isso vai servir para distraí-los enquanto eu faço a minha parte. Entendeu?
- Sim. 
Buig entrou e eu prendi o choro. 
- Shukufuku sa reta taigā aru! - Disse Buig para os demais. 
Shukufu sa reta taigã aru! - Responderam. 
Os taigãs começaram a cantar e falar frases em japonês que se referiam ao tigre. Derrepente tudo ficou em silêncio. Minha irmã deveria estar desmaiada, pois não gritava mais. Um homem quebrou o silêncio:
- Hōfu ni nani...
Primeira batida. Segunda batida. Terceira  batida.
-AAAAAH! AAAAAAAAH! 
Gritei como nunca havia gritado na vida. As pessoas ficaram assustadas e logo começaram a me segurar, bater e gritar:
Norowa reta! Norowo reta!
Foi quando Buig pegou três homes e deu-lhes um soco que os fez desmaiar. Consegui me levantar em bati em mais dois. Havia muitas pessoas lá. Enquanto estávamos distraídos, quatro homens foram na direção do corpo nu e desacordado de Mary para desfrutarem sozinhos. Larguei o que estava fazendo e fui correndo em direção a eles. Foi quando um raio vindo de trás os atacou e, provavelmente, os matou. Olhei para trás e não consegui acreditar no que via. O que Helena estava fazendo num lugar como aquele. A menina com que eu mais sonhara era uma Taigã? Isso não importava, ela salvara a vida de minha irmã. Desamarrei as cordas que enrolavam Mary e esperei Buig para que saíssemos dali. Olhei para Helena e ela me encarava. Tiraria satisfações com ela depois. Agora tínhamos que sair dali. Sair daquele pesadelo.




*Kumos: aranhas
* Shukufuku sa reta taigā aru: Bendito seja o santo tigre.
* Hōfu ni nani...: Que comece...
* Norowa reta: Maldito

 

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