Depois de um
dia intenso de trabalho, Lola voltava para o lugar onde se obtia sossego e
tristeza. Sua casa se localizava em um bairro simples de Londres. Havia se
mudado pra lá quando tinha apenas 14 anos com Grace, sua madrasta, após a morte
de seu pai. Três anos já se passaram desde que Grace se mudou para a África do
Sul com seu amor, e Lola morava com seu "namorido" em seu
apartamento. John era um homem de quarenta e cinco anos que conheceu em um
grupo de Leitura que fora organizado em uma biblioteca que ficava perto de sua
casa. Apesar de ser quinze anos mais velho que ela, ele a completava. Ele era o
tipo de homem que escrevia cartas com declarações de amor, que comprava flores
para sua amada, que a surpreendia em todos os sentidos. Ele simplesmente, a amava.
Lola, outrora, adorava estar com John, receber seus carinhos, seus presentes,
seu amor. Mas, nos últimos tempos, devido ao trabalho excessivo, o amor do
"seu velho" tem ficado em últimos planos. E isso a desgastou de uma
forma que ela já não fazia questão da presença dele.
Certo dia, Lola começou a observar o
comportamento de John e percebeu que ele se sentia muito cansado, sentia muita dor
de cabeça e, na maioria das vezes, sofria com a febre sozinho. Sua pele estava
repleta de manchas vermelhas que tapava com suas camisas de manga
comprida. Achou aquilo extremamente estranho e tomou coragem para perguntar o
que estava acontecendo, já que a comunicação estava tão escassa.
- John, - falou desesperada, levantando a
manga de suas blusa e tocando em seu rosto pálido para ver se estava com febre
- o que está acontecendo? O que são essas machas? Você está queimando de febre!
- Nada Lola.
- disse frio - por que não vai cuidar das coisas do seu trabalho do que ficar
aqui vendo se eu estou com febre?
Surpreendida
com sua resposta revidou:
- Ah!
Pelo amor de Deus! Isso não vem ao caso. Mesmo que eu não venha te dando muita atenção,
ainda me preocupo.
- Ah, sério?! - disse ele indignado - Não
parece!
- Não vou discutir com você. Anda, vamos ao
médico.
Mesmo
com ar de reprovação, John foi ao médico. Ele passou por uma pilha de exames
que fizeram com que eles ficassem lá por mais ou menos duas horas. Após
mais um exame sanguíneo, o médico os chamou a sua sala. Após se ajeitarem nas cadeiras,
o médico iniciou o difícil processo.
- Bom... -
disse o médico com um ar de tristeza - após avaliarmos o seus exames Sr.
John, concluímos que o senhor está com
meningite bacteriana. Infelizmente, o seu estágio é o mais grave da
doença e se não tratarmos imediatamente, ela pode ser fatal.
A notícia veio a Lola com se ela tivesse
recebido uma carga elétrica. Perturbada, perguntou:
- Fatal?!
- Sim, e
mais uma coisa: O Sr. John vai ter que ficar hospitalizado para que receba as
medicações corretamente. Se a doença for tratada em casa, as chances de que ele
morra se aumentarão.
O médico deu
mais explicações sobre a doença, fato que fazia com que, a cada minuto,ela se
desesperasse mais. Depois de várias perguntas e lágrimas, John foi
internado.
Todos os
dias ela o visitava, levava flores, livros, e apesar de ele estar preso a aquela cama, eles se divertiam e
fortaleciam seus laços amorosos. Apesar da doença ainda estar presente, eles estavam mais felizes que nunca.
Pareciam dois adolescentes borbulhando
de amor. Lola nunca se sentira tão feliz em toda sua vida. Mas, ao lembrar que
aquela maldita doença poderia levar toda aquela felicidade, a tristeza
retornava e ela se sentia culpada. Extremamente culpada.
Os meses foram se passando e o estado de John
não mudava. Ele estava extremamente magro, e já não possuía apetite. Foi numa
madrugada fria que veio a notícia. Lola estava dormindo numa poltrona do quarto
de John. Quando acordou por volta das sete da manhã, a mão dele estava
entrelaçada a dela e estava muito gelada. Num pulo, começou a apalpa-lo e
implorar que acordasse. Mas nada acontecia. Ele havia partido. Aquilo que ela
mais temia, agora era realidade. O "seu velho" a havia deixado. Tudo
agora parecia escuro, tudo parecia sem graça. Tudo o que ela sabia fazer era
chorar. Chorar por aquilo que a vida tirou e por aquilo que ela mesma não fez.
Culpava-se de não ter lhe dado à atenção que deveria. Tudo o que ela via, o
lembrava. E ela, simplesmente, chorava. No entanto, ela sentia que ele estava ali perto, a
abraçando. Mesmo que não pudesse ver, o sentia. Sentia o seu amor. Nada poderia
substituir a sensação de ser amada por John. Nada era melhor do que estar com
ele. Mas agora ele não estava mais ali.
Depois de acertar a papelada para o enterro de
John, Lola voltava, sozinha, para o lugar que por muito tempo lhe ofereceu amor e alegria. Pena que não soube
disso a tempo.
Raíssa Moreira
Raíssa Moreira
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