sábado, 25 de agosto de 2012

Vida

    
            
Depois de um dia intenso de trabalho, Lola voltava para o lugar onde se obtia sossego e tristeza. Sua casa se localizava em um bairro simples de Londres. Havia se mudado pra lá quando tinha apenas 14 anos com Grace, sua madrasta, após a morte de seu pai. Três anos já se passaram desde que Grace se mudou para a África do Sul com seu amor, e Lola morava com seu "namorido" em seu apartamento. John era um homem de quarenta e cinco anos que conheceu em um grupo de Leitura que fora organizado em uma biblioteca que ficava perto de sua casa. Apesar de ser quinze anos mais velho que ela, ele a completava. Ele era o tipo de homem que escrevia cartas com declarações de amor, que comprava flores para sua amada, que a surpreendia em todos os sentidos. Ele simplesmente, a amava. Lola, outrora, adorava estar com John, receber seus carinhos, seus presentes, seu amor. Mas, nos últimos tempos, devido ao trabalho excessivo, o amor do "seu velho" tem ficado em últimos planos. E isso a desgastou de uma forma que ela já não fazia questão da presença dele.
 Certo dia, Lola começou a observar o comportamento de John e percebeu que ele se sentia muito cansado, sentia muita dor de cabeça e, na maioria das vezes, sofria com a febre sozinho. Sua pele estava repleta de manchas vermelhas que tapava com suas camisas de manga comprida. Achou aquilo extremamente estranho e tomou coragem para perguntar o que estava acontecendo, já que a comunicação estava tão escassa.
 - John, - falou desesperada, levantando a manga de suas blusa e tocando em seu rosto pálido para ver se estava com febre - o que está acontecendo? O que são essas machas? Você está queimando de febre!
- Nada Lola. - disse frio - por que não vai cuidar das coisas do seu trabalho do que ficar aqui vendo se eu estou com febre?
Surpreendida com sua resposta revidou:
  - Ah! Pelo amor de Deus! Isso não vem ao caso. Mesmo que eu não venha te dando muita atenção, ainda me preocupo.
 - Ah, sério?! - disse ele indignado - Não parece!
 - Não vou discutir com você. Anda, vamos ao médico.
  Mesmo com ar de reprovação, John foi ao médico. Ele passou por uma pilha de exames que fizeram com que eles ficassem lá por mais ou menos  duas horas. Após mais um exame sanguíneo, o médico os chamou a sua sala. Após se ajeitarem nas cadeiras, o médico iniciou o difícil processo. 
- Bom... - disse o médico com um ar de tristeza - após avaliarmos o seus exames Sr. John,  concluímos que o senhor está com  meningite bacteriana. Infelizmente, o seu estágio é o mais grave da doença e se não tratarmos imediatamente, ela pode ser fatal.
 A notícia veio a Lola com se ela tivesse recebido uma carga elétrica. Perturbada, perguntou:
- Fatal?!
- Sim, e mais uma coisa: O Sr. John vai ter que ficar hospitalizado para que receba as medicações corretamente. Se a doença for tratada em casa, as chances de que ele morra se aumentarão.
O médico deu mais explicações sobre a doença, fato que fazia com que, a cada minuto,ela se desesperasse mais. Depois de várias perguntas e lágrimas, John foi internado. 
Todos os dias ela o visitava, levava flores, livros, e apesar de ele estar  preso a aquela cama, eles se divertiam e fortaleciam  seus laços amorosos. Apesar da doença ainda estar presente, eles estavam mais felizes que nunca. Pareciam dois adolescentes  borbulhando de amor. Lola nunca se sentira tão feliz em toda sua vida. Mas, ao lembrar que aquela maldita doença poderia levar toda aquela felicidade, a tristeza retornava e ela se sentia culpada. Extremamente culpada. 
 Os meses foram se passando e o estado de John não mudava. Ele estava extremamente magro, e já não possuía apetite. Foi numa madrugada fria que veio a notícia. Lola estava dormindo numa poltrona do quarto de John. Quando acordou por volta das sete da manhã, a mão dele estava entrelaçada a dela e estava muito gelada. Num pulo, começou a apalpa-lo e implorar que acordasse. Mas nada acontecia. Ele havia partido. Aquilo que ela mais temia, agora era realidade. O "seu velho" a havia deixado. Tudo agora parecia escuro, tudo parecia sem graça. Tudo o que ela sabia fazer era chorar. Chorar por aquilo que a vida tirou e por aquilo que ela mesma não fez. Culpava-se de não ter lhe dado à atenção que deveria. Tudo o que ela via, o lembrava. E ela, simplesmente, chorava. No entanto,  ela sentia que ele estava ali perto, a abraçando. Mesmo que não pudesse ver, o sentia. Sentia o seu amor. Nada poderia substituir a sensação de ser amada por John. Nada era melhor do que estar com ele. Mas agora ele não estava mais ali.
 Depois de acertar a papelada para o enterro de John, Lola voltava, sozinha, para o lugar que por muito tempo lhe ofereceu  amor  e alegria. Pena que não soube disso a tempo.  

Raíssa Moreira


          
          

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